Taís Brem | Se eu soubesse, tinha guardado.
Meus tios-bisavós Florício e Dininha tinham uma casa encantadora. Passar algumas horas por lá era uma estadia no paraíso, principalmente para as crianças: bolachinhas, geléias, chás, refrigerante, bife, goiabada… Tudo delicioso! Mas, não era só no quesito hospitalidade que eles tiravam nota 10, não. Tinha outra coisa que chamava a atenção de quem visitava aquele lar: a bela cozinha vermelha que eles tinham.
Quando falo de cozinha, não falo de alguns acessórios apenas. Falo de tudo. Tudo – mesmo – naquela cozinha era vermelho: o fogão, a geladeira, a mesa, as cadeiras, as latas de mantimentos… Devia ser moda na época em que eles casaram – lá pela década de 1940, calculo eu, tendo em vista a idade avançada que teriam hoje, caso estivessem vivos.
Toda vez que eu vejo um móvel ou eletrodoméstico daquela cor, lembro da cozinha da tia Dininha e do tio Florício. A moda voltou. E agora tem nome: retrô. Ou vintage. Tudo o que tiver no mercado atualmente com essa terminação, pode crer que é daquele tipo de coisa que você já teve um dia, colocou fora, pensando que nunca mais ia usar, e agora lamenta: “Ah, se eu soubesse… Teria guardado!”.
Pode dar uma olhada por aí. Tanto nas lojas virtuais quanto nas físicas, os tais objetos estão em alta. E o preço deles não fica atrás. Uma vitrola, uma televisão antiga, uma geladeira arredondada, um óculos com uma cara mais antiguinha, uma cristaleira, uma penteadeira, uma câmera analógica… Voltou à moda e, portanto, custa muito caro.
Minha mãe sempre disse que moda é coisa que vai e volta. Mas, do jeito que o consumismo nos afeta, o que virou moda mesmo foi adquirir muito e descartar, também, com a mesma intensidade. O interessante é que esse vai-e-vem não é coisa recente. Realmente, volta e meia, o que se usava numa época, torna a ser tendência algumas eras depois. Talvez, seja a deixa para que a gente comece a observar melhor o que está sendo deixado de lado, gastando menos, economizando e reaproveitando mais. Um dia, você vai poder se orgulhar em dizer: “Ufa! Ainda bem que eu guardei!”.
Taís Brem
Nota 10…