[PEL] O fim dos trailers fixos nas ruas de Pelotas.
A longa batalha, que há mais de um ano tem colocado os comerciantes donos de trailers de um lado e o poder público de outro, parece ter finalmente chegado a um ponto inegociável. Segunda-feira (17) nenhum dos trailers comerciais de Pelotas estará em funcionamento. O dia será reservado para vistorias da prefeitura, que pretende analisar quais estabelecimentos estarão cumprindo as novas leis de mobilidade.
Ao caminhar por duas das principais avenidas da cidade, Bento Gonçalves e Duque de Caxias, conhecidas pela disponibilidade de trailers comerciais por todas as suas extensões, a população pode perceber os primeiros resultados da mudança. Destroços deixados pelos canteiros, retroescavadeiras em funcionamento e os primeiros trailers móveis já são encontrados.
Os permissionários, acanhados com a inflexibilidade da prefeitura e do Ministério Público, se apressam para desmontar as estruturas, muitas das quais estão colocadas há mais de 20 anos. Segundo Flávio Fagundes, 47, há 22 anos na Bento Gonçalves, já haviam tido discussões sobre o assunto com outros governos, mas sempre existia o bom senso do Executivo de preservar o que ele considera parte essencial da cultura da cidade. De acordo com o comerciante, Pelotas é referência nacional em lanches pelos estudantes de todo o país que o experimentam.
Arte: Rafaela Azevedo – DP
Transporte das estruturas
Outro ponto levantado por Flávio é a dificuldade de transporte das estruturas e a confusão que causará no tráfego da cidade. “Eu queria que alguém da prefeitura me explicasse como é que eu vou carregar um trailer, todo os dias, com o trânsito do final de tarde, sacolejando nessas ruas esburacadas”, protesta.
Ivonete Vieira, 43, há 23 anos na Duque de Caxias, já alugou uma casa na própria avenida para continuar o serviço até a permissão da prefeitura ser dada. Segundo ela, no entanto, o aluguel de R$ 2.800,00 torna difícil o lucro com o negócio e a atitude só foi tomada para não perder os clientes durante o hiato.
A comerciante alega não ter condições de comprar um caminhão autopropulsor de oito metros de comprimento e que terá, portanto, que se contentar com a outra opção disponibilizada pela prefeitura, de um trailer de apenas quatro metros de comprimento e dois de largura. Segundo ela, a mudança provavelmente a forçará a demitir funcionários, já que os cinco que possui, além dela e do marido, não caberão no novo estabelecimento.
Segundo a secretária de Gestão da Cidade e Mobilidade (SGU), Joseane Almeida, não havia condições para mais um adiamento de prazo, com os comerciantes já tendo tido tempo de sobra para fazer as adequações. Quanto à questão do tráfego dos trailers a secretária alega que o horário de início do funcionamento foi determinado para as 18h e que, portanto, os comerciantes terão que fazer o transporte mais cedo, evitando o horário de pico.
Até a última sexta-feira, os proprietários tinham a chance de se inscrever junto à SGU, para manter por tempo provisório os espaços que já ocupam. O pedido será avaliado após a vistoria e caso a área não seja considerada apropriada a prefeitura indicará novos locais possíveis para o trabalho. Aqueles que não tiverem retirado as estruturas fixas ou transformado em móveis até segunda-feira, não poderão concorrer a esse pedido. Dentro de cerca de dois anos, após serem elaborados projetos de repaginação da cidade, deverá ser feito o processo de licitação.
Entenda o histórico recente
Em julho do ano passado, após ação movida ainda em 2012 pelo procurador Paulo Charqueiro, a prefeitura foi condenada a regulamentar ou então remover os estabelecimentos irregulares em um período inicial de 120 dias. Depois de protestos dos permissionários na Câmara de Vereadores e inúmeras reuniões com o Executivo, o prazo foi prorrogado para 31 de janeiro deste ano.
Com o fim do novo prazo e alegação por parte dos comerciantes de que não haviam ainda sido esclarecidas as referências para as mudanças, o período para adequação foi mais uma vez adiado, desta vez por 45 dias – até segunda-feira, 17 de março.
Na última quarta-feira, cerca de 30 proprietários se reuniram em frente à prefeitura carregando cartazes protestando contra o que consideravam uma posição inflexível do Executivo. Após reunião com o gabinete do prefeito, o grupo decidiu formular um documento que foi entregue no dia seguinte ao Executivo e ao MP pedindo uma prorrogação de mais 60 dias – pedido negado por ambas as partes.
DIARIO POPULAR
Por: Carlos Fetter