[PEL] Duas mil tartarugas são devolvidas ao Canal São Gonçalo em Pelotas.
O número impressiona: dois mil filhotes de tartaruga foram devolvidos para o Canal São Gonçalo em Pelotas. Mas o tamanho diminuto deles — um pouco maior que uma foto 3×4 — fez com que todos coubessem em apenas oito caixas. Em trinta minutos, eles voltaram para o habitat natural.
Foram tirados de lá, há três meses, quando ainda eram ovos enterrados em areias próximas ao canal. Visando vender cada um por R$ 5 a pet shops para ser revendido no Centro-Oeste do país por até R$ 300, traficantes de animais silvestres colhem ilegalmente os ovos:
— Eles enterram os ovos no quintal de casa, fazendo um cativeiro clandestino. Escondem colocando palha em cima ou próximo a plantações de hortaliças. Por isso é difícil de encontrarmos, só quando há denúncia — justifica o sargento da 3ª Companhia Ambiental de Pelotas da Brigada Militar, Ademir Cerqueira.
Foi por uma denúncia, aliás, que chegaram essas tartarugas. Em um terreno de pouco mais de 20 metros, havia 6 mil ovos. O dono da propriedade, um homem de Rio Grande, que pode responder por crime ambiental cuja pena é de 6 meses a 1 ano, colheu em vários ninhos, já que cada fêmea gera em torno de 10 ovos.
— As tartarugas trabalham com quantidade ao contrário dos mamíferos, que trabalham com qualidade. Ou seja, os mamíferos tem menos filhotes, mas cuidam durante mais tempo, enquanto as tartarugas, répteis, colocam muitos ovos, mas logo depois os abandona — explica a bióloga Greici Maia Behling, do Núcleo de Reabilitação da Fauna Silvestre da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Então a chance de cada animal sobreviver vai diminuindo. Siga a conta: seis mil ovos foram encontrados. Dois mil ainda não estão grandes o suficiente para serem devolvidos, precisam ficar mais tempo na UFPel, com areia sob temperatura controlada. Dois mil acabaram morrendo por fungo ou outras doenças normais da espécie. E das duas mil soltas, segundo especialistas, mais da metade não deve sobreviver.
— Essa é uma das características delas, muitas viram presa de gavião — informa Greici, que logo complementa: — Mas as que atingem a idade adulta podem chegar a até 30 cm e viver de 20 a 30 anos!
A espécie solta nesta sexta-feira foi a popularmente conhecida como “tartaruga tigre d´água”, natural do Brasil. O nome científico é Trachemys dorbigni. Greici esclarece que, ao contrário do propagado pelo comércio de animais, não existe espécie que fique sempre pequena. A única que pode ser vendida para estimação, desde que o produtor tenha um cativeiro com licença do Ibama, é uma popularmente conhecida como “tartaruga da orelha vermelha” ou Trachemys scripta. Para reconhecê-la, note que ao lado dos olhos deve haver duas listras vermelhas. Mas essa também não fica bebê para sempre: quando adulta atinge 20 cm. Cuidado ao adquirir uma tartaruga, pois comprar animais silvestres é crime.
— Além de não ser permitido, é uma agressão a esses animais porque o bicho sempre prefere estar no meio ambiente — lembra Greici.
E, como se fosse para comprovar, minutos depois de conhecer a água, uma filhote já havia nadado mais de dois metros.
— Olha ali, toda feliz — apontou Greici.
ZERO HORA