Jovens da região sul aderem às páginas Spotted.
Boatos dizem que tudo começou nas bibliotecas europeias, mas ninguém sabe ao certo em que país. Os alunos começaram a procurar outros frequentadores do ambiente de estudos utilizando páginas em redes sociais. Essas páginas, chamadas Spotted, se tornaram fenômeno no mundo inteiro.
A proposta é a criação de uma espaço onde se possa descobrir através de recados anônimos o nome de uma pessoa que frequenta ou estava em um determinado local. Funciona como uma espécie de “correio do amor”: uma declaração é enviada ao moderador que posta no feed de notícias da página o recado sem identificar quem enviou. A partir daí, começa a diversão dos usuários. Aqueles que conhecem alguém parecido com a descrição realizada, “denunciam” o nome do indivíduo ou apontam seu perfil na rede social.
Em Pelotas a moda também pegou. Páginas como o Spotted UFPel (destinado aos alunos da Universidade Federal de Pelotas) acumularam quase 3,5 mil curtidores em apenas oito dias. E a troca de recados não fica restrita apenas aos alunos de uma determinada universidade. Já existem criações para aqueles que buscam o amor platônico da noite anterior. A página Spotted: Bar do Zé, por exemplo, agregou 897 curtidas em quatro dias.
O criador, que preferiu não ser identificado para não constranger os usuários de sua página, conta que tem recebido de 15 a 20 recados por dia e esses números vem aumentando. Entre os bilhetes, um pouco de tudo, brincadeiras de amigos, flertes e as perigosas chacotas, presentes frequentemente em ambientes virtuais.
O usuário conta que desde a criação da página, no dia 8 deste mês, ainda não recebeu nenhum tipo de publicação que parecesse uma brincadeira efetivamente ofensiva a alguém. “A gente trabalha com a ideia de que a tiração de sarro é o mais legal, até agora não recebemos nada ofensivo ao ponto de não ser publicável. O trabalho de moderação é ver se aquilo tem algum propósito dentro da brincadeira”, explica. Ele conta também que souberam de um casal que aparentemente se conheceu através da página e começou a conversar, mas ainda não obteve retorno de nenhum romance consumado.
O dono da página não teve notícias sobre um possível término de namoro acontecido devido à alguma publicação de mal gosto, mas observa que o maior fluxo de informações vem de usuários que ele sabe serem comprometidos com alguém.
Interações virtuais
A professora de jornalismo digital da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e pesquisadora, Raquel Recuero, explica que páginas como essa, onde o usuário não precisa revelar sua verdadeira identidade trazem interações que podem ser positivas, em casos onde ajuda alguém a se declarar, ou negativas, quando se produz brincadeiras de mal gosto, por exemplo. “A rede permite que a interação seja desprendida do corpo físico, o que deixa um certo espaço para coisas que não diríamos para o outro numa interação face a face. Isso porque os efeitos das mensagens, por não estarem diretamente conectados comigo, meu perfil, meu corpo, não têm efeitos imediatos em mim, o que permite que eu experimente a interação”, exemplifica.
A professora recomenda que o espaço seja utilizado com bom senso. “Essas fanpages e grupos focam a questão do anonimato para fazer uma brincadeira, o que é ok, entretanto, sempre é preciso usar o bom senso porque é muito fácil uma brincadeira anônima virar uma coisa mais séria e grave”, salienta.
Próximas páginas
Recuero ainda não tem previsões sobre a durabilidade das Spotted no espaço virtual. Apesar de os brasileiros aderirem às novidades, a popularidade do “correio do amor” ainda é uma incógnita. “Já vi outras páginas com propostas semelhantes começarem bombantes e dali a pouco morrerem”, pontua a especialista.
Por: Marina Barros
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