[JAG] Jaguarão: uma beleza da arquitetura neoclássica a caminho do Uruguai.
Povoada no começo do século XIX e ponto de passagem para o Uruguai, a cidade gaúcha de Jaguarão, na metade sul do estado, está a exatos 380 quilômetros de distância das capitais Porto Alegre e Montevideu. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a cidade possui um conjunto de bens culturais de forte importância para a história do Rio Grande do Sul e do Brasil. Com edificações coloniais e arquitetura herdada da época em que serviu de acampamento militar, Jaguarão preserva uma atmosfera paisagística de forte influência desta época.
A formação do Conjunto Histórico e Paisagístico de Jaguarão está ligada aos processos de expansão das ocupações portuguesa e espanhola no território sul-americano. A cidade abrigou disputas e batalhas entre as duas nações e, cresceu envolto ao clima militar. Apesar de as fortificações originais não existirem mais, outros elementos marcam essa presença, como as ruínas da antiga Enfermaria Militar.
A arquiteta do Iphan Roseli Comissoli de Sá explica que o espaço da antiga enfermaria funcionou como hospital durante os conflitos militares e também como residência para oficiais. “Na década de 70, o local começou a entrar em estado arruinamento e sofrer depredações por parte da população. Existem histórias de que as pessoas levaram banheiras da enfermaria que até hoje estão em borracharias”, conta.
Para preservar o valor histórico do local, o governo do estado e a Prefeitura Municipal de Jaguarão firmaram parceria com o governo federal e incluíram Jaguarão no PAC Cidades Históricas. Uma das quatro cidades gaúchas a receber parte do montante de R$ 1,6 bilhão da União, a cidade fronteiriça já está com 11 projetos de restauro em andamento. Os investimentos são de R$ 40 milhões, ao longo dos próximos três anos.
Ao serem declarados protegidos, os bens culturais têm garantia por força da legislação federal de que permanecerão inalterados, sem interferências que ameacem as suas características originais. No Rio Grande do Sul, também foram contemplados com recursos do PAC Cidades Históricas os municípios de Porto Alegre (R$ 50,50 milhões), Pelotas (R$ 32,80 milhões) e São Miguel das Missões (R$ 27,62 milhões). “Não é por acaso que estes recursos estão vindo para cá. Fizemos uma articulação entre o Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e o Iphan para atração de recursos. O Rio Grande do Sul está recebendo 10% do total de recursos do PAC e optamos em fortalecer o investimento na metade sul”, salienta o secretário adjunto de Cultura do Estado, Jeferson Assumção.
Assista aqui o vídeo sobre o patrimônio histórico da cidade de Jaguarão
Ruínas narram a história do pampa
Entre os locais a serem recuperados, quatro foram tombados como patrimônio histórico do estado pelo Governo gaúcho. A antiga enfermaria, por exemplo, está sendo restaurada para se tornar o futuro Centro de Interpretação do Pampa (CIP). As obras nas ruínas da construção abandonada desde a década de 1970 já estão consolidadas, bem como a reposição de argamassa e pedras. A ideia do projeto, explica a arquiteta que fiscaliza a obra, Daniela Vieira, é criar um telhado de capim e mato espontâneo. “O projeto é preservar as características das ruínas no seu aspecto original. Apenas limpamos as estruturas e fortalecemos as paredes. Com o jardim na laje de cima das ruínas, a paisagem deverá se integrar ao verde do pampa no entorno”, explica.
O terreno rochoso atrás das ruínas, conhecido pelos jaguarenses como ‘pedreira’ será transformado em um auditório que possibilitará o retorno de shows na cidade. “No começo da nossa intervenção, a população estranhou o que estávamos fazendo com a antiga enfermaria da cidade. Tivemos que cercar o local, e elas entenderam como barreira e queriam entrar no canteiro de obras. Hoje entendem que iremos valorizar o espaço e manter a cultura”, diz a arquiteta Daniela.
Outro local que está sendo restaurado é o Teatro Esperança. Construído em 1887 e inaugurado dez anos depois, atualmente o prédio está interditado para as obras de recuperação. O teatro foi um espaço muito frequentado pelos moradores de Jaguarão e abrigou espetáculos de outros estados e de fora do país. “Na época, não existiam cadeiras. As pessoas traziam as próprias cadeiras. Foi um espaço muito utilizado para apresentações circenses e espetáculos com animais”, conta a arquiteta Roseli de Sá.
O prédio do antigo Fórum Municipal e que até poucos meses atrás abrigava a Casa de Cultura de Jaguarão também será restaurado. Interditado por precariedade da estrutura física, será recuperado e seguirá como casa de cultura. Construído em 1900, o local chegou a funcionar como ginásio.
O Mercado Público, construído em 1864, hoje também se encontra interditado e integra o cronograma de investimentos do PAC Cidades Históricas de Jaguarão. As últimas lojas foram fechadas recentemente, mas já disputaram espaço no forte comércio local de antigamente. “O Mercado tinha importância para a atividade comercial, pois a conexão das mercadorias era pelo Rio Jaguarão e chegavam no mercado público, que está localizado de frente para o rio”, explica Roseli.
Os demais projetos selecionados para restauração são a Igreja Matriz do Divino Espírito Santo, a antiga Inspetoria Veterinária, o Casarão da Prefeitura Municipal, a Praça Dr. Alcides Marques e Largo das Bandeiras, o Casarão do Clube Jaguarense, o Casarão Clube Social 24 de Agosto e o Cine Regente. “O mundo passou a olhar para nós”, diz a arquiteta da prefeitura de Jaguarão.
“É muito importante para o cidadão jaguarense este olhar do mundo para nós. O tombamento da cidade como patrimônio histórico consolidou o trabalho de preservação feito pelos próprios moradores que mantêm os prédios preservados em sua arquitetura original até hoje”, explica a arquiteta da Prefeitura Municipal, Adriana Ança.
Segundo a arquiteta, o turismo na cidade aumentou desde que a cidade foi tombada e o município está sendo visto para além do turismo de comércio dos freeshop uruguaios. “Eu me sinto emocionada. É uma cidade que fica ao sul do estado e agora mostra dinamismo para todo estado. Estamos consolidando um Centro de Interpretação do Pampa que ficará para prosperidade de todos, mantendo aquela sensação de ‘hermanos’ que temos com os vizinhos uruguaios e argentinos, com a história do pampa e da nossa cultura”, comemora Adriana.
Texto: Rachel Duarte
Foto: Pedro Revillion/Palácio Piratini
Edição: Redação Secom (51) 3210.4305