Taís Brem | O milagre do respeito.
Acabei de ver um vídeo interessante que me fez refletir sobre o respeito ao próximo. É fato que vivemos numa sociedade cada vez mais egoísta em que o “faça aos outros aquilo que gostaria que fizessem por você” anda em acelerado desuso. Mas, quando nos deparamos com ações como a da Comisión Especial de Discapacidad do Congreso de la República del Perú – ou Comissão Especial sobre Deficiência do Congresso da República do Peru, em tradução livre –, o choque é inevitável.
Deve ter sido exatamente esta a intenção de quem elaborou a peça: chocar. Objetivo que foi alcançado com êxito. É uma sacada bem simples, mas muito inteligente. Trata-se de um vídeo que mostra motoristas saindo de seus carros caminhando normalmente, logo após estacionarem os automóveis em vagas destinadas a pessoas portadoras de necessidades especiais. Então, atores chegam perto dos condutores simulando uma série de cuidados e perguntando se eles se sentem bem, se não querem uma cadeira de rodas pra auxiliar na locomoção, entre outras estratégias, todas bem aplicadas com o intuito de constranger a pessoa. Afinal, se o motorista que acabou de sair de um carro estacionado numa vaga para cadeirante o faz sem apresentar nenhum sintoma de deficiência que justifique a parada no local, das três, uma: ou essa pessoa precisa de ajuda para se locomover com segurança, ou merece os parabéns por ter sido milagrosa e instantaneamente curada ou está pedindo por um bem-dado “puxão de orelhas” para aprender a respeitar o espaço alheio. Infelizmente, as reações mostradas nas imagens levam a crer que a terceira hipótese é a correta.
Seria interessante se o mesmo grupo surpreendesse o falso cadeirante torcedor da Copa que foi pego saltitando da cadeira de rodas na fila próxima ao gramado, destinada pela Fifa aos portadores de necessidades especiais.
Uns o fazem simplesmente para conseguir um lugar privilegiado na competição esportiva mais emocionante do planeta. Outros, simplesmente porque querem levar vantagem numa boa vaga de estacionamento. A unanimidade fica por conta mesmo da falta de respeito. A peça peruana traz como slogan a frase “Pedimos respeito, não milagres”. Eu diria mais: seria bom se a prática do respeito deixasse de ser milagre e se tornasse algo corriqueiro. Um dia, quem sabe celebraremos esse prodígio.
Taís Brem
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